domingo, 21 de março de 2010

O Estudo do Meio e a Vivência Ambiental



O estudo do meio é o melhor jeito de fazer os professores trabalharem em equipe e de mostrar aos alunos o caráter complexo da realidade

Os alunos adoram e os educacionais aprovam. O estudo de meio é, de fato, uma ótima maneira de colocar a realidade dentro da sala de aula – justamente tirando a turma de dentro da sala de aula. E, diferente do que muita gente pensa, não é preciso viajar ou organizar um longo passeio. Até em volta da escola é possível aprender muito. Desde que os dois eixos principais da atividade sejam considerados: a necessidade de os professores trabalharem em equipe e a possibilidade de mostrar aos alunos a complexidade do mundo em que vivemos.

Para começar, a interdisciplinaridade. Uma das principais características que diferenciam o estudo do meio de outras atividades fora da escola, como uma visita ao jardim zoológico, é o fato de envolver diversas disciplinas. Não dá para fazer um estudo de envolver diversas disciplinas. Não dá pra fazer um estudo do meio de verdade sem ter um olhar completo sobre o tema. Daí a importância de envolver professores de todas as áreas e definir objetivos em comuns. “A abordagem escolar costuma ser monodisciplinar”, afirma Nélio Bizzo, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP). “Mas, num lugar real, o aluno precisa se dar conta da montanha de relações que se estabelecem entre os vários conteúdos. Se não for assim, a atividade não terá sido bem-sucedida.” O que nos leva ao segundo eixo principal, o caráter complexo da realidade. Todo mundo sabe que o mundo não é dividido em História, Matemática e Língua Portuguesa. Essa divisão expressa a evolução das idéias ao longo da história da humanidade, agrupadas por áreas do conhecimento. Ou seja, quando a escola leva os estudantes a explorar a realidade, é inevitável que isso envolva todas as disciplinas. Afinal, há Geometria nas formas da natureza; há Arte nas construções; há História e Geografia em cada lugar por onde passamos.

“É preciso misturar ensino e pesquisa”, diz Nídia Nacib Pontuschka, da Faculdade de Educação da USP. Facilmente você vai perceber que esse é um ótimo caminho para despertar noções de cidadania e consciência social e ambiental – além de um grande número de outras competências. Leia a seguir os principais passos para fazer do estudo de meio uma rotina em sua escola.

1. O ponto de partida é, com base na proposta pedagógica e no currículo da escola, identificar os temas que mais bem se adaptam a essa metodologia de ensino (exigem o trabalho com várias disciplinas e só funcionam quando observamos a realidade á nossa volta).

2. É hora de definir objetivos pedagógicos. Acima de tudo, eles devem ser produto do trabalho coletivo dos professores envolvidos.

3. Em seguida deve ser feita uma relação de lugares que se adaptem a esses objetivos e, claro, estejam dentro da realidade socioeconômica dos alunos. Esse é o momento de decidir se dá para fazer uma viagem, uma pequena excursão ou apenas um passeio pelos arredores da escola.

4. Agora, o ideal é que um grupo de professores de áreas diferentes faça uma visita prévia ao lugar escolhido. Além das questões operacionais (transporte, alimentação, hospedagem, se houver), eles podem definir os locais a serem conhecidos pela turma e entrar em contato com pessoas que conhecem a região. “Em outras palavras, preparar o terreno”, diz Nídia Pontuschka, da USP.

5. Ainda na escola, é fundamental fazer um planejamento detalhado. Sem esquecer que imprevistos acontecem e é muito bom estar preparado para incluí-los no programa.

6. Às vésperas do passeio, os alunos devem tomar contato com o que vão encontrar em campo. Em classe, mostre mapas, fotos e vídeos ou promova palestras e debates. Em viagens, é bom cada estudante montar um caderno de anotações e ilustrações.

7. Chegando ao destino escolhido, Nídia sugere ir até um local de onde se tenha uma vista da região, para uma noção geral do que explorar.

8. Durante a visita, os comentários e as observações dos professores são importantíssimos, para dirigir o olhar dos alunos e proporcionar troca de impressões. Desenhar o que se vê é ótimo. “ Isso nos obriga a olhar a paisagem com mais atenção.” No caso de uma viagem, os momentos de lazer são parte fundamental do trabalho – para aliviar a cabeça e ajudar a manter a concentração nos momentos necessários.

9. De volta à escola, é preciso concluir o trabalho. De um simples relatório a um site, passando por peças de teatro, exposições e debates, tudo pode ajudar a turma a fixar os conceitos e entender como eles se relacionam com a realidade. Ninguém vai esquecer a experiência.

Nélio Bizzo, professor de Metodologia do Ensino de Ciências na Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, chama a atenção para a importância de contemplar toda a realidade socioeconômica que envolve o assunto que você pretende trabalhar na forma de estudo do meio. E ele dá um exemplo: se o tema abordado são peixes, é essencial pesquisar desde a vida do pescador e sua renda até a importância da pesca para a cidade ou região, passando pelos interesses do dono do barco, do vendedor de gelo e do comprador do peixe. Sem esquecer as questões ecológicas e ambientais – e assim por diante.





* Fonte: Revista Nova Escola (A Revista do Professor), Abril de 2003, página 39

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